Em Novembro de 2020 passei 2 meses em São Paulo, morando em um pequeno apartamento na região de Pinheiros. Aquela sensação de tudo meio fechado, parado, suspenso. A vida também estava em suspenso, uma série de desafios pessoais rolando. A fotografia, como em muitos outros momentos da minha vida, funcionou como um momento de escape e reflexão.
Como toda região urbana, principalmente de países em desenvolvimento, as ruas são um combinado de natureza, construções, numa combinação caótica e com sua própria organização. Uma estética própria da cidade, um pouco difícil de apreciar. Mas, sempre é possível achar um pouco de beleza, na confusão dos fios de um poste, ou no lixo despejado na rua.
Explorar a cidade com a fotografia é isso: buscar a beleza diante dos milhares de objetos e coisas que compõe a paisagem urbana. Mas, encontrar algo belo, ou esteticamente agradável, diante da imensidão dos encontros avulsos que acontecem na cidade é algo prazeroso.
Os objetos da Cidade
Produzimos lixo. Um monte dele. O ciclo de consumo é visível na cidade, principalmente na parte do descarte. Tenho um interesse particular na estética do descarte, sobre o que as pessoas jogam fora, como elas jogam e no caos da forma com que as coisas são colocadas na rua.
É quase um tipo de voyeurismo, característico do fotógrafo. A curiosidade de capturar um pouco da história de um local ou de um povo através dos objetos que encontramos na rua.
A história que um copo de plástico, provavelmente usado para alguma bebida alcoólica, descartado no meio da rua, numa interseção de sombra, luz, asfalto, paralelepípedo, num cruzamento, sobre uma zebra. Um equilíbrio totalmente avulso e improvável.
As vezes tenho a percepção que os objetos se auto organizam numa estética própria. Ao acaso.
Uma vez li sobre um termo oriental, chinês se não me engano, sobre ver buscar organizar uma estética no descarte de objetos. Algo como, descartar com elegância. Nunca mais ouvi falar sobre o tema, tampouco encontrei referências no google. Se alguém souber, deixe nos comentários. Eu ficarei agradecido.
As ruas desertas durante a pandemia de 2020
Outro tema recorrente nas minhas explorações são as ruas desertas. Tenho um certo fascínio por ver ruas, avenidas e estradas vazias. Ver como algo que está quase sempre cheio, pode estar vazio. Cidades cheias com ruas vazias é um paradoxo.
O caos organizado
Outro tema que me chama muita atenção é a forma com que a cidade cresce de forma desorganizada e não planejada. E como precisamos adaptar a infraestrutura a esse crescimento. Não temos tempo para parar e organizar, pensar. O poder público, principalmente em uma megalópole como São Paulo, não pensa em estética ou praticidade. Não tem essa preocupação, visão, tempo ou recursos financeiros para pensar, só para executar.
Vemos isso no caos mais clássico de grandes cidades.
A cidade que nunca dorme, fechada
São raras as ocasiões nas quais podemos ver tantas coisas fechadas durante a luz do dia. São Paulo está sempre aberta. Até agora.
Todas as imagens com JPGs direto da Câmera.
Fotografado com uma Fuji XT2 e recipes TRIX400 e Kodachrome 64