Quando falar que “Não existe Hack” é o próprio Hack

Influenciadores e referências do digital estão repetindo a mensagem “Não existe hack” de forma errada, só para atrair a sua atenção

Hoje vi mais um post falando que hacks não funcionam. Tenho visto essa mensagem de forma repetida, principalmente como consequência do que o Ícaro de Carvalho prega, de que “Não existe Hack” para crescer e ter sucesso.

O conteúdo, que não era do Ícaro, mas de outra escola de marketing digital, ainda usava alguns exemplos absurdos para exemplificar o que seriam “hacks”. Ao final, te convidava pra assistir um curso de produção de conteúdo.

Usam o termo Hack para designar um inimigo comum. Falam que você não tem sucesso em algo por que está tentando hacks e, que a única forma para alcançar seus objetivos, é pelo trabalho duro.

Essa análise está parcialmente correta. Infelizmente, isso cria a imagem de um inimigo comum (o hack) de forma simplista e, em contrapartida, oferece uma justificativa do porque o oposto é o melhor.

Curiosamente, a técnica do inimigo comum pode ser considerada um Hack de narrativa.

Por que falar que “Não existe Hack” está errado?

Porque usam um termo comum, o “hack” para atacar uma outra prática. Por isso, ao simplificar a mensagem, cometem um erro.

Concordo plenamente, só o trabalho duro leva ao sucesso. Sou aluno do Ícaro e acho o trabalho dele muito bom, inclusive em relação a dissiminação da mensagem de que não existe atalho.

Mas, quem critica o uso de hacks falando que “não existe atalho para o sucesso” não entendeu absolutamente nada sobre hacks.

O mercado em geral, principalmente os produtores pequenos e intermediários, usam o termo “hack” erroneamente, para vender a pílula mágica do sucesso.

É a bala de prata, que vai ter fazer crescer 10.000 seguidores em um mês. Sweet dreams. Apesar de possível crescer nessa velocidade, não existe “um segredo” especial, ou “hack” pra isso. Essas são excessões.

É uma consequência natural do mercado. Comunicadores se apropriam de um termo e usam até desgastá-lo. Então, precisam precisam encontrar a próxima palavra mágica que encapsula a mensagem que queriam transmitir.

A verdade é que o mito do sucesso fácil, do enriquecimento relâmpago, do milionário em 1 ano encanta muita gente.

De onde surgiu a prática de “hackear” as coisas?

De Hackers. Óbvio…

De uma forma bem genérica:

Hackers são pessoas que exploram vulnerabilidades em um sistema, para atingir um objetivo específico.

Hackers exploram erros em programas, sites e até sistemas analógicos*, para:

  • Conseguir algum benefício (dinheiro, informação ou vantagem)
  • Pelo prazer ou diversão
  • Para descobrir e consertar as vulnerabilidades

* Curiosidade: os primeiros hackers começaram encontrando vulnerabilidades em sistemas telefônicos, antes da prática ser feita em computadores.

Com o tempo, essa prática de explorar vulnerabilidades foi adotada em outras atividades, como produtividade, marketing ou saúde.

Tanto que hoje, temos hack para várias coisas:

  • Life Hackers
  • Bio hackers
  • Productivity Hackers
  • Growth Hackers (ligado ao marketing)
  • Etc.

Os praticantes desse tipo de hack buscam formas de potencializar os seus resultados através de soluções não óbvias. Eles procuram “bugs” no sistema, para alcançar resultados de forma mais rápida e eficiente.

(Um bug é um termo para definir erro ou problema.)

O objetivo final desse tipo de hacker é melhorar os seus resultados e otimizar seus esforços.

Por isso, usar o termo “Hack” para transmitir a ideia de atalho é inadequado. E, ao passar informações dessa maneira, você faz com que pessoas repitam o erro e deixem de usar um conceito poderoso.

O pior, os comunicadores que criticam continuam usando “hacks cognitivos” pra chamar a sua atenção.

O que eles buscam criticar é a ideia de que existe um caminho fácil para o sucesso. Ou bala de prata, ou pílula mágica.

Nisso, eles estão certos.

O hack não é um processo simples

Para hackear alguma coisa a pessoa precisa entender profundamente como funciona o sistema que ele quer explorar.

Um hacker de software precisa ter um conhecimento profundo sobre softwares e seu funcionamento. Sobre redes, sistemas operacionais, etc.

Ele também precisa executar diversos experimentos para coletar informações e entender a mecânica dos sistemas que quer explorar. Então, a pessoa usa esse conhecimento para alterar o sistema ou realizar alguma atividade não programada, com algum objetivo específico.

O hacker entende que o sistema nem sempre funciona de maneira eficiente, ou como deveria. E que existem “falhas” na forma com que ele é desenhado ou utilizado.

Nenhum programador consegue prever 100% das atividades em sistemas complexos, então sempre existem usos não previstos, falhas, vulnerabilidades (bugs).

Da mesma forma, o biohacker, ou hacker de produtividade, busca entender como o sistema que quer otimizar funciona. Seja ele o corpo, a rotina de trabalho ou seu cérebro. Com esse entendimento ele busca formas de otimizar o trabalho, para obter algum resultado específico.

O mundo está cheio de sistemas complexos e ineficiências

Fora dos softwares o hacker é aquela pessoa que busca otimizar a relação de esforço e resultado em uma área específica, como processos, marketing, finanças, comportamento humano, sistemas governamentais, dentre outros.

Ao invés de explorar vulnerabilidades em softwares e hardwares (tecnologia) eles buscam essas vulnerabilidades em sistemas, processos, sistemas de informação, dinâmicas sociais e sistemas biológicos.

Normalmente, quanto mais complexo o sistema, mais bugs ele oferece.

Essas vulnerabilidades permitem que eles utilizem “hacks” para otimizar a relação de esforço e resultado.

Hacks são:

  • soluções não óbvias ou contra intuitivas
  • soluções pouco utilizadas ou desconhecidas
  • formas não previstas de usar uma solução
  • áreas ou processos à margem da lei (atividades não previstas em lei ou não regulamentadas)

A origem da crítica: Hacks de Instagram para alcançar mais seguidores

A origem da crítica dos professores e influenciadores de marketing digital é que as pessoas querem crescer no instagram da noite pro dia e esperam que um Hack milagroso faça isso. Querem alcançar milhares de seguidores e aproveitar os benefícios (social e montário) desse sucesso sem colocar o esforço necessário. Essa não é uma conquista fácil.

Fazer um “Hack de instagram” significa você conhecer os seus seguidores e entender o algoritmo da plataforma, para produzir e postar conteúdo da forma mais eficiente possível.

O verdadeiro Hacker do Instagram

O “hacker de instagram” precisa entender como funciona o sistema (de forma bem simplista: algoritmo + perfil de seguidores) para conseguir alcançar o seu resultado (chamar a atenção, divulgar um conteúdo, crescer, etc.) de maneira eficiente.

Se ele não sabe como funciona o sistema, então precisa realizar experimentos para coletar informações e validar hipóteses sobre o seu funcionamento.

Alguns sistemas são complexos e opacos e o algoritmo do instagram é um exemplo clássico disso. Um sistema opaco é aquele que você não tem acesso direto ao seu funcionamento interno. Você só entende com ele funciona através de tentativa e erro.

Esses experimentos ajudam a validar que tipo de ação aumenta o resultado de um esforço. Exemplo: qual conteúdo, ou que formato, levará a mais seguidores ou engajamento?

Mas só o atalho não funciona

O sistema se adapta e o que deu certo no passado, pode não servir para o futuro. Isso é válido para quase todos os sistemas complexos, já que a mudança é uma característica comum.

Depois de algum tempo o Instagram muda as regras. Então, é necessário fazer novos experimentos para entender o que melhora os resultados. Isso é tentar “hackear” o algoritmo.

É preciso traçar hipóteses (sobre conteúdo e o algoritmo), executar testes e ver o que dá resultado.

Continuamente.

Por isso, hack não é atalho.

O grande problema não são os hackers, são os freeriders

Freeriders são aquelas pessoas que querem se aproveitar do esforço dos outros para reduzir a sua tentativa de obter sucesso.

Resumindo: o Freerider é aquele colega do colégio que entrava no seu grupo e não fazia nada, mas que tirava 10 pelo seu esforço e dedicação.

Infelizmente, o mundo está cheio de freedriders. Pessoas que querem um atalho para o sucesso, surfando no esforço dos outros.

Nem todos os Hackers não são freeriders, mas os freeriders usam hacks.

Os Freeriders buscam “hacks” como atalhos para o sucesso, mas não por que elas querem trabalhar de maneira mais eficiente e produtiva e sim, pelo contrário.

Eles não querem trabalhar. Eles querem resultados rápidos, sem se esforçar.\

Hackers são diferentes.

Hackers, de produtividade, de marketing (growth), do corpo, etc., não fazem hacks como um atalho para o sucesso. Eles fazem isso por que existem ineficiências nos sistemas e nas formas com que fazemos as coisas. Identificam formas melhores, não óbvias, pouco conhecidas e diferentes de fazer determinada tarefa.

Hackers buscam maneiras mais eficientes de alcançar resultados, que de outra forma não seriam possíveis.

Os hacks do passado são os processos eficientes do futuro.

Ser um hacker, nesse tipo de atuação que descrevi, demanda um processo, muito esforço e prática. Demanda objetivo, hipóteses de experimentos, sistemas de validação (dos resultados).

Contanto que trabalhem DENTRO DA LEI e respeitem as outras pessoas, “hackear” as coisas é algo positivo e benéfico.

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