Teoria dos jogos e cooperação contínua durante a crise do Coronavírus

Este é um questionamento que surgiu assistindo à um vídeo da Deutsche Welle (Jornal alemão), que fala do crescimento do soft power chinês diante da crise do coronavírus. A situação da União Européia diante da crise evidência que nem todos os países têm uma postura de apoiar a integração, conceito central para o bloco. Muitas opniões diversas, muitos conflitos de interesse.

Um desses conflitos é o de nacionalismo. Em uma situação de teoria dos jogos, as interações entre os players (governos) e os sinais enviados demonstram que existe um sério problema de confiança, sobre se haverá ou não cooperação (ajuda) financeira ou de recursos, ou neste caso humanitária, quando a coisa ficar feia. Sendo assim, os governos de cada país, sabendo que provavelmente não vão receber a ajuda que o bloco conceitualmente deveria oferecer, se voltam para dentro e procuram soluções internas, em benefício próprio, porém, que conflitam com o conceito e valores de cooperação do bloco. Isso aconteceu durante a crise da Grécia, com os conflitos de interesse com os bancos alemães e depois com a crise dos refugiados. Seguindo o conceito dos jogos contínuos, os players já perceberam que os sinais não são de cooperação e por isso decidem em benefício próprio, mesmo que a o resultado final global seja menor (enfraquecimento do bloco?).

Me parece que existem muitas variáveis para se interpretar e administrar. A cooperação entre muitos atores é muito complicada e delicada, por que cada sinal importa. Talvez os EUA fossem um ator com uma postura de coordenação desses sinais, mas com as mudanças nas visões estratégicas do país (American First), essa coordenação, ou liderança, ficou confusa ou ausente. Ou melhor, o POTA não envia sinais claros e por isso cada player decide jogar o seu próprio jogo. Já faz alguns anos que a UE não tem a força necessária para liderar esse jogo, por isso abre espaço para a China e sua visão estratégica preencher os espaços vazios, para depois crescer e aumentar sua influência.

Voltando ao ponto de interações. Yuval Harari fala que um dos maiores desafios da humanidade hoje é a cooperação internacional, para resolução de desafios globais. Um exemplo é a necessidade de alinhamento entre as propostas e práticas necessárias para o combate ao aquecimento global. Este é um problema do planeta inteiro, sem cooperação e coordenação de esforços não há muitas chances de sucesso, por que existem incentivos e interesses completamente diferentes entre os países.

Apesar desta crise do Coronavírus apresentar uma série de esforços de cooperação entre países e, principalmente entre grupos organizados e indivíduos, este cenário evidência as rachaduras nos sistemas de integração. Talvez isso mude, mas na velocidade que as coisas acontecem talvez seja tarde: os sinais já foram enviados e os players já têm um entendimento do funcionamento do jogo. Para reverter esse comportamento é preciso haver cooperação novamente, partindo de um ou vários players, agindo em prol do grupo e enviando sinais positivos, mesmo que aparentemente isso signifique sacrificar parte dos benefícios de se jogar somente a seu favor.

Enfim, esse texto é mais um dumping de ideias. Atualmente existe um grande conflito entre a ideia de globalização e de nacionalismo. A crise do Coronavírus é um catalisador desse conflito e deve acelerar as mudanças. Não sei necessariamente em qual direção. O resultado dependerá de como as pessoas e os governos interagem durante a crise. Se houver cooperação, talvez os resultados sejam positivos. Se houverem acusações e pouca integração, talvez o mundo passe por uma transformação significativa, para caminhos indesejados.

Estão aqui registrados meus pensamentos. Saúde a todos.

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